segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Quadrinhas

Quadrinhas

A quadrinha é um gênero textual próprio para ser repetido, ouvido ou falado.
É a forma lírica mais comum entre o povo; foi também utilizada por poetas de renome.
Composta por quatro versos, a rima surge geralmente no 2.º e 4.º versos, sendo os outros dois versos sem rima. A quadra popular pode ser composta por uma única estrofe ou por várias.


NÃO HÁ TINTA NESSA RUA
NEM PAPEL NESSA CIDADE
NEM CANETA QUE CONSIGA
DESCREVER MINHA SAUDADE

COMO DUAS ANDORINHAS
NUMA TARDE DE VERÃO,
SEREMOS SEMPRE AMIGOS,
AMIGOS DO CORAÇÃO.

LÁ NO FUNDO DO QUINTAL
TEM UM TACHO DE MELADO
QUEM NÃO SABE CANTAR VERSO
É MELHOR FICAR CALADO.

VOCÊ ONTEM ME FALOU
QUE NÃO ANDA NEM PASSEIA
COMO É QUE HOJE CEDINHO
EU VI SEU RASTRO NA AREIA?

VOA, VOA, PASSARINHO
SE TU JÁ QUERES VOAR;
OS PEZINHOS PELO CHÃO
E AS ASINHAS PELO AR.

PASSARINHO, PASSARINHO
QUE CANTA NO MEU JARDIM,
NÃO O PRENDO AMIGUINHO,
CANTE BEM PERTO DE MIM

ESCREVI TEU BELO NOME
NA PALMA DA MINHA MÃO,
PASSOU UM PÁSSARO E DISSE:
- ESCREVE EM TEU CORAÇÃO.


QUEM QUISER SABER MEU NOME
DÊ UMA VOLTA NO JARDIM
QUE O MEU NOME ESTÁ ESCRITO
NUMA FOLHA DE JASMIM.

FUI FAZER A MINHA CAMA
ME ESQUECI DO COBERTOR
DEU UM VENTO NA ROSEIRA
ENCHEU MINHA CAMA DE FLOR.

SOU PEQUENINA
CRIANÇA MIMOSA
TRAGO NAS FACES
AS CORES DA ROSA.

SOU PEQUENINA
DA PERNA GROSSA
VESTIDO CURTO?
PAPAI NÃO GOSTA.

BATATINHA QUANDO NASCE
ESPARRAMA PEPLO CHÃO
MEU BENZINHO QUANDO DORME
PÕE A MÃO NO CORAÇÃO.

APROVEITA MINHA GENTE
APROVEITA E NÃO DEMORA
QUE A LARANJA ESTÁ ACABANDO
QUE MEU CARRO JÁ VAI EMBORA.

SOU PEQUENININHO
DO TAMANHO DE UM BOTÃO
CARREGO PAPAI NO BOLSO
E MAMÃE NO CORAÇÃO.


AS ESTRELAS NASCEM NO CÉU
OS PEIXES NASCEM NO MAR
EU NASCI AQUI NESTE MUNDO
SOMENTE PARA TE AMAR!

COMO DUAS ANDORINHAS
NUMA TARDE DE VERÃO,
SEREMOS SEMPRE AMIGAS,
AMIGAS DO CORAÇÃO.

CANTA, CANTA
ESSA CANÇÃO
SÃO QUADRINHAS
E UM REFRÃO

VOCÊ ME MANDOU CANTAR
PENSANDO QUE EU NÃO SABIA
POIS EU SOU QUE NEM CIGARRA
CANTO SEMPRE TODO DIA.

Quadrinhas amorosas populares

Selecionadas por Rolando de Serigi

Quando me toma cansaço
Penso em ti como quem reza
E a alma torna-se de aço
E a vida já não me pesa

Uma escada de dois lados
Toda enfeitada de flor
De um lado sobe a saudade
Do outro desce o amor
Tenho na minha janela

Um valverde regalado
Regado com águas tristes
Que por ti tenho chorado
Minha menina bonita

Meu girassol encoberto
Faz tempo que eu não te vejo
Nem de longe nem de perto
Vai-te embora não te lembres

Quem de mim já vive ausente
Pra ser amante, querida
Você não é que é gente
Eu já fui hoje não sou

Prenda do teu coração
Hoje sou a "vassourinha"
Com que tu varreste o chão
Esta noite à meia-noite

Ouvi cantar o gavião
Parecia que dizia
"Vinde cá, meu coração"
Triste sou, triste me vejo
Sem a tua companhia
Tão triste que nem me lembro
Se alegre fui algum dia

Mulata cor de bronze
Mulata é o aluá
Mulata tu me prende
Com a luz do teu olhar

O ganso pisou na água
E com o bico foi beber
Não contei nada a ninguém
Que meu amor é você

Tua boca é tão pequena
Tão pequena e tão singela
Que eu não sei como é que cabem
Tantos beijos dentro dela

Abaixai-vos serras altas
Quero ver Guaratinguetá
Quero ver o meu amado
Em que braço ele está

Teu coração é cofre cheio
De moedas do querer bem
Já fez rica a muita gente
E eu nunca tive um vintém

Se estás arrependida
Pelo bem que me fizeste
Dá-me os beijos que te dei
Que te dou os que me deste

A tua pele é tão fina
Tão fácil de se queimar
Que até receio magoá-la
Co'a chama do meu olhar

Abaixai, serra negra
Quero ver Jurumirim
Quero ver se aquele ingrato
Ainda se lembra de mim

Fui chorar minha saudade
Na beira do ribeirão
Respondeu peixe no fundo:
? Por que chora, coração?

Tu amas a Jesus
Que morreu por tanta gente
Por que não amas a mim
Que morro por ti somente

Nhanhã cantava modinhas
Eu fazia o cafezinho
Ele dava cafunés
Eu pagava com um beijinho

Adoro-te tanto, tanto
Ó meu grande e doce bem
Que se um dia morreres
De tédio morro também

Você diz que me quer bem
Eu também estou te querendo
Um bem se paga com outro
Nada fico te devendo

Cinco com quatro são nove
Acabou-se a novena
Amei-te com tanto gosto
Deixei-te com tanta pena

Lá em cima tem batuque
Cá em baixo também tem
O rio está muito cheio
Não posso passar, meu bem

Se vires a garça branca
Pelos ares ir voando
Dirás que são os meus olhos
Que te vão acompanhando

Embora o fogo se apague
Fica na cinza o calor
Embora o amor se acabe
No coração fica a dor

Pus-me a pesar as pedrinhas
Do deserto em que eu vivi
Mais pesavam minhas penas
Do que quantas pedras vi

Coração não gostes dela
Que ela não gosta de ti
Não estejas coração
Tape, tepe, tipi, ti

As flores do cafeeiro
Estão branquinhas a sair
Não fiques triste, menina
Quando me vires partir

Por um capricho, querida
Me trocaste por alguém
Por um capricho é possível
Que outra vez me queiras bem

Vi um mendigo na rua
Pôr fora a esmola de alguém
Meu coração faz o mesmo
Se quem dá não lhe quer bem

Se fossem de balas as lágrimas
Que por ti tenho chorado
O meu coração andava
De balas todo varado

Teus lindos e verdes olhos
São duas grandes mentiras
Que o verde é cor da esperança
E tu a esperança me tiras
Assim como as abelhas

Abrem asas pra voar
Eu também abro os meus braços
Pra com eles te abraçar

(Serigi, Rolando de. "Quadrinhas amorosas populares 3; contribuição ao estudo do folclore". Correio Paulistano. São Paulo, 13 de junho de 1954)